segunda-feira, 24 de abril de 2017

ESPERA-ME

                               Constantin Simonov (tradução de Hélio do Soveral)

Espera-me. Até quando, não sei.
Um dia, voltarei.

Espera-me pelas manhãs vazias,
nas tardes longas e nas noites frias,
e, outra vez, quando o calor voltar.
Aí, nunca deixes de me esperar!

Espera-me, ainda que, aos postais,
as minhas cartas já não cheguem mais.
Ainda que o Ontem seja esquecido
e o Amanhã já não tiver sentido.



Espera-me depois que, no meu lar,
todos se cansem de me esperar.
Até que o meu cachorro e o meu jardim
não mais estejam a esperar por mim!

Espera-me. Até quando, não sei.
Um dia, voltarei.

Não dês ouvidos nunca, por favor,
àqueles que te dizem que o amor
não poderá os mortos reviver
e que é chegado o tempo de esquecer.

Espera-me, ainda que os meus pais
acreditem que eu não existo mais.
Deixa que o meu irmão e o meu amigo
lembrem que, um dia, brincaram comigo
e, sentados em frente da lareira,
suponham que acabou a brincadeira…
Deixa-os beberem seus vinhos amargos
e, magoados, sombrios, em gestos largos,
falarem de Heroísmo ou de Glória,
erguendo vivas à minha memória.
Espera-me tranquila, sem sofrer.
Não te sentes, também, para beber!

Espera-me. Até quando, não sei.
Um dia, voltarei.

Esperando-me, tu serás mais forte;
sendo esperado, eu vencerei a morte.
Sei que aqueles que não me esperaram
– que gastaram o amor e não amaram –
suspirando, talvez digam de mim:

“Pobre soldado! Foi melhor assim!”

Esses, que nada sabem esperar,
não poderão jamais imaginar
que das chamas eternas me salvaste
simplesmente porque me esperaste!

Só nós dois sabemos o sentido
de alguém poder morrer sem ter morrido!
Foi porque tu, puríssima criança,
tu me esperaste além da esperança,
para aquilo que eu fui e ainda sou,
como nunca, ninguém, me esperou!

Comentários por Simone Carvalho: 

Espera por mim, de autoria de Constantin Simonov, é um dos mais conhecidos poemas russos. Foi escrito em 1941, logo após a invasão de Hitler na Rússia. 

No verão daquele ano, Simonov tinha 25 anos e, apesar das suas origens aristocráticas, já era um bem sucedido poeta e dramaturgo soviético. Ele era apaixonado pela jovem atriz Valentina Serova. Quando Hitler atacou, Simonov recebeu ordens imediatas para avançar para a frente como correspondente de guerra. Valentina esteve com ele na estação.

Durante horas, Simonov foi exposto à brutal e caótica realidade da guerra. Ele pensou que não iria sobreviver. 
O principal tema da sua obra foi a guerra. Como correspondente de guerra, Símonov visitou todas as frentes, passou pelas terras da Bulgária, Iugoslávia, Polônia, Romênia e Alemanha, e testemunhou a batalha por Berlim. 
Os seus versos eram lidos na linha da frente entre combates, e, também, anotados e copiados entre amigos. 
As estrofes do poema "Espera-me" tornaram-se as mais famosas junto das mulheres na retaguarda e dos homens em todas as frentes da guerra. Soldados e oficiais sabiam o poema de cor e enviavam-no em cartas às esposas e noivas. Na história da poesia russa é difícil encontrar outro poema que tenha ressoado tanto nos corações de milhões de pessoas. 

Poeta, escritor e dramaturgo, nasceu em novembro de 1915 na cidade de São Petersbugo. Em 1931 a sua família mudou-se para Moscou e  Konstantin começou a trabalhar como mecânico numa fábrica. 
Os primeiros poemas surgem nessa época, publicados em alguns jornais moscovitas. O poeta entrou para o Instituto Gorki de Literatura, interrompendo os estudos para cumprir serviço militar como correspondente de guerra. Escreveu peças de teatro, romances, reportagens e livros de poemas inspirados na temática da guerra. Ocupou, depois da guerra, alguns cargos importantes que abandonou para se dedicar por inteiro à sua obra. 
Simonov casou-se com Valentina em 1943. Mas não foram felizes, como poemas posteriores registraram. A personalidade volúvel de Valentina decepcionou Simonov e eles se separaram em 1957. Ele morreu em Moscou no dia 28 de Agosto de 1979.

2 comentários:

  1. Um dos poemas mais lindo que li pela primeira vez em 1965… sensibilidade pura do autor.

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  2. Sensibilidade, leveza e beleza. Poema que relembra muito minha mãe.

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