__Por que vou ver das colinas
a manhã que nos sorri?
Eu sei lá. Subo, imaginas?
Acaso vou eu sem ti?
Queres saber por que cismo?
Não sabes mimosa flor?
E tu, por que cismas tanto
às horas do sol em por?
Queres saber o que fazem
os meus olhos por céus além?
E os teus, que fazem? Não erram
perdidos por lá também?
Por que suspiro abaixando
a fronte plácida ao chão?
E tu, por que a fronte inclinas
O que procuro – alta noite –
lá dentro nos olhos teus?
E tu, mulher, o que queres
o que procuras nos meus?
Que doce mistério é este?
Eu quem sou, e tu quem és?
Tu... Toda a luz da minha alma.
Eu... A sombra dos teus pés.
Eu sou a noite que doura
da tua estrela o fulgor
Eu sou o vale profundo
tu és a pálida flor.
Eu sou a vaga sombria
que soluçando correu
Tu és o raio perdido
que em suas águas bateu.
Eu sou a árvore agreste
que nos rochedos brotou
Tu és o pássaro lindo
que nos seus ramos pousou.
Eu sou as folhas do livro
tu és a lenda de amor
Eu sou o vaso, e tu, virgem,
tu és o suave odor.
Da vida às margens risonhas
onde há só nudez e paz
Eu rosas estou colhendo
tu rosas colhendo estás!
Ai! Embalemos as almas
num berço de amor sem fim!
Eu não quero... tu não queres...
Mas a sorte o quer assim!...
Comentário por Simone Carvalho:
Linda poesia de amor! O homem
enamorado fala com sua amada delicadamente, sobre as dúvidas que ela tem a
respeito dele:
- dos lugares que frequenta (colinas)
- dos momentos de silêncio (Queres saber por que cismo?)
- do olhar perdido no horizonte (Queres saber o que fazem meus olhos por
céu além?)
- dos suspiros (por que suspiro abaixando...)
- daquele olhar mais profundo (o que procuro... nos olhos teus).
E ele esclarece que todas as reações que ela menciona, são igualmente
reações dela. Portanto, estão no mesmo patamar de sentimento. (Ele e ela
colhendo rosas).
E conclui: Terem se encontrado, mesmo não querendo, não procurando, foi
uma SORTE!
SOBRE O AUTOR:
Luís Delfino dos Santos (nasceu em Desterroo/SC, em 25 de agosto de 1834 — Faleceu no Rio de Janeiro, em 31 de janeiro de 1910) foi um médico, político e poeta brasileiro. É considerado o segundo poeta mais importante de Santa Catarina, superado apenas por Cruz e Sousa.
O amor e a mulher eram seus temas preferidos.
Filho de Tomás dos Santos e de Delfina Vitorina dos Santos. Casou-se com
Maria Carolina Puga Garcia dos Santos, tendo como filho, entre outros, Tomás Delfino dos Santos.
Morou em sua cidade natal até os dezesseis anos de idade. Mudou-se então
para o Rio de Janeiro, onde se formou em medicina pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1857.
Não publicou nenhum livro em vida, o que fez com que sua obra quase se perdesse no
tempo. Sua poesia, de rima e métrica perfeitas, era publicada
frequentemente na maioria dos jornais e revistas da sua época, o
que o fez conhecido e amado como poeta. Foi eleito pelos colegas escritores "Príncipe dos Poetas
Brasileiros" em 1898. Foi chamado também de "Victor Hugo brasileiro". Sua obra é imensa -
escreveu mais de cinco mil poemas - e foi publicada em quatorze livros, por seu
filho, Tomás Delfino dos Santos, entre 1926 e 1943.
Sua poesia vai do romantismo ao parnasianismo, passando pelo simbolismo. A perfeição na rima, em métrica dá cadência e musicalidade à obra de Luís Delfino.
O amor e a mulher eram seus temas preferidos.
É patrono da Academi Santoamarense de Letras.
Foi senador por Santa Catarina no início da República Velha.
Quanto à grafia de seu nome, embora a forma preferida e mais largamente
usada atualmente seja "Luís" (com S), todos os seus trabalhos como
senador eram assinados como "Luiz" (com Z), portanto ambas as grafias
podem ser consideradas corretas.
Lindo poema! Já o conhecia, mas gostaria de ver mais poemas de Luiz Delfino - esse é o único que conheço.
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