(Junqueira Freire)
Sou Índia, sou virgem, sou linda, sou débil
— É quanto vós outros, ó tapes, dizeis!
Sabei bravos tapes, que sei com destreza
Cravar minhas setas nos peitos dos reis!
Sabei que não canto somente
prazeres,
Sabei que não gemo somente de amores,
Sabei que nem sempre vagueio nos bosques,
Sabei que nem sempre me adorno de flores.
Sabei que não gemo somente de amores,
Sabei que nem sempre vagueio nos bosques,
Sabei que nem sempre me adorno de flores.
Meus lábios não beijam os
lábios do amante,
Meus lábios combatem tirânicas leis:
Meus lábios são como trovões estupendos,
Que cospem coriscos na face dos reis!
Meus lábios combatem tirânicas leis:
Meus lábios são como trovões estupendos,
Que cospem coriscos na face dos reis!
Quem viu-me nas liças, quem
viu-me covarde
Aos silvos da flecha, quem viu-me escorar?
Eu sou como a onça, pequena e valente,
Eu sei os perigos da guerra afrontar!
Aos silvos da flecha, quem viu-me escorar?
Eu sou como a onça, pequena e valente,
Eu sei os perigos da guerra afrontar!
Enchi meus carcases de agudas
taquaras,
Que iguais na floresta jamais achareis;
E dessas taquaras fatais é que pendem
As vidas infames de todos os reis.
Que iguais na floresta jamais achareis;
E dessas taquaras fatais é que pendem
As vidas infames de todos os reis.
Sou Índia, não nego: meu
finos cabelos,
Qual juba ferina, bem longos que são!
Porém esse peito, que férvido pulsa,
É másculo, ó tapes, ou é de um leão!
Qual juba ferina, bem longos que são!
Porém esse peito, que férvido pulsa,
É másculo, ó tapes, ou é de um leão!
Meu ânimo, ó tapes, aqui vos
conjuro,
Bem cedo meu ânimo ardente vereis;
Que eu já me preparo coas setas melhores
Que saibam cravar-se no peito dos reis;
Bem cedo meu ânimo ardente vereis;
Que eu já me preparo coas setas melhores
Que saibam cravar-se no peito dos reis;
Eu tenho cingidos na fronte,
ó guerreiros,
Seis dentes de chefes de inimigas coortes:
Na paz os meus dedos desfiam amores,
Na guerra o meus dedos disparam mil mortes.
Seis dentes de chefes de inimigas coortes:
Na paz os meus dedos desfiam amores,
Na guerra o meus dedos disparam mil mortes.
Sou Índia, sou virgem, sou
débil, sou fraca,
— Só isso vós, tapes injustos, dizeis:
Sabei bravos tapes, que sei com destreza
Cravar minhas setas no peito dos reis.
— Só isso vós, tapes injustos, dizeis:
Sabei bravos tapes, que sei com destreza
Cravar minhas setas no peito dos reis.
Comentário por
Simone Carvalho
- Poesia lindíssima, que fala
de uma Índia dos Tapes, que se apresenta como corajosa defensora de ideias
(...meus lábios combatem tirânicas leis...).
- colocando-se como guerreira
que usa com destreza suas armas contra os soberanos maldosos que os perseguem.
(...Que eu já me preparo coas setas melhores que saibam cravar-se nos peitos
dos reis...)
- Ela é uma linda índia, sim,
mas não aceita só esses elogios dos homens de sua tribo. Quer ser reconhecida
como a mulher forte que defende com unhas e dentes sua gente! (...Na paz os
meus dedos desfiam amores, na guerra os meus dedos disparam mil mortes...).
Caboclo origina-se de caâ, mato,
e boc, procedente: caaboc, tirado do mato: é, pois, o
índio, antes de ampliar o sentido à fusão do indígena com o branco. O povo do
interior diz de preferência caboco.
Tapes —
indígenas do Sul.
Carcases – são bolsas próprias para carregar
flechas.
Liças –as liças eram paliçadas de madeira que
rodeavam os castelos, as fortalezas, impedindo o acesso a elas. Taquaras – É uma planta tipo bambu,
que servia para fazer flechas.
SOBRE
O AUTOR: JUNQUEIRA FREIRE –(31/12/1832 -
24/06/1855).
Luís José Junqueira Freire
foi um poeta brasileiro nascido em Salvador, Bahia. Sua obra lírica divide-se
em religiosa, amorosa, filosófica, popular e alguma poesia social, de tom
declamatório, precursora de Castro Alves. Participou da segunda geração
romântica. Viveu apenas 23 anos.
Publicado no livro Obras Póstumas (1868*).
Publicado no livro Obras Póstumas (1868*).
Poema
integrante da série Contradições Poéticas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Querido leitor, está com dificuldade para postar um comentário?
Siga os passos:
1- Digite no quadro o seu comentário.
2- Em "comentar como" escolha a opção nome/URL e digite seu primeiro nome
3- Não precisa escrever na opção URL
4- Clique em publicar.
Se aparecer a frase "EU NÃO SOU UM ROBÔ", basta seguir as instruções e depois publique.
Bjs