DEPOIS DA BATALHA

“DEPOIS DA BATALHA”

                                               Victor Marie Hugo

                                                                      (tradução de Silva Ramos)

Meu pai, aquele herói de riso sempre aberto,

seguido de um “hussard” que estimava decerto

mais que os outros, por ser um bravo ante a metralha,

percorria a cavalo, após uma batalha,

o campo de combate envolto pelo véu da noite;

Nisto, um ruído, a escuridão rompeu:

Era um belo espanhol do exército vencido

que à beira do caminho, exânime, caído,

gemia agonizante, exausto e sem socorro

e que a custo dizia: “Água! Água! Que eu morro!”

Meu pai magoado, estende ao seu “hussard”

então, a cabaça de rum dependurada do arção

e diz-lhe: “Toma lá, dá-lha ao pobre ferido”.

De repente, no instante em que o “hussard”,

pendido o ia socorrer, ele, um tipo de mouro

que inda agarrava a arma, arremessa um pelouro

à fronte de meu pai, exclamando: ‘caramba!’

Tão perto lhe zune o tiro, que descamba

o chapéu e o cavalo acua e se retrai.

“Vai, dá-lhe de beber, embora!” – diz meu pai.

NOTA:

·         arção: Parte superior da sela do cavalo

·         “hussard”: militar de menor patente

·         mouro: inimigo 

·         pelouro: tiro

Comentário por Simone Carvalho

           

            Emoção pura nessa poesia de Vitor Hugo. Ao lê-la temos a visão clara do que aconteceu: Após a batalha, o herói percorre acompanhado de um seu subordinado o campo onde se dera o combate. 

O leitor ‘vê’ a cena. Corpos de soldados caídos naquele chão sangrento, numa noite de dor. Ao se deparar com um inimigo ainda com vida e pedindo ajuda, o herói manda que lhe seja dada a ajuda.

Há, de repente, a reação do ‘quase morto’ dando um tiro que passa raspando a cabeça do herói. O que se acontece em seguida mostra os bons sentimentos que existem no coração dessa pessoa, que quase fora assassinada.

Ele manda que, apesar do ferido ter tentado matá-lo, lhe seja dada a ajuda que estava pedindo.